quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Expectadora

Olhando a sua volta, ela não pode ver nada. Nem ao seu lado e nem em seu futuro obscuro e duvidoso.
Porque ela não tem nada. Porque não há nada para se visto. Nada e ninguém.
Só o que ela gostaria de saber é o porque disso.

A cada esquina deve existir alguém assim, como ela. Triste e sem motivos para se reerguer.
Tudo o que tinha de ser feito, já foi. Alguma coisa mudou? Não.
Isso não deveria importar. Mas importa.
Uma pessoa sem expectativa de vida, deveria mesmo ter um coração batendo dentro de si?
A resposta, ela não sabe. Mas a pergunta não sai de sua mente suja e vazia.

O sofrimento já se foi. Nem ele ficou. Mas estar vazia é ainda pior. Não sentir nada, é ainda mais angustiante.
Mas é menos doloroso, isso já vale de alguma coisa.
Quem foi que um dia achou que a hora de juntar os caquinhos é mais fácil, do que a hora que o vidro se parte?
Quando ele parte, é rapido, tão rapido que a dor não se é sentida.
Mas difícil do que juntar os caquinhos, é se esfriar, é manter a cabeça fria e vazia.
E quando se consegue isso, se espera melhorar. Mas não. Simplesmente não se sente melhor. Pois não adiantar criar uma barreira em sua volta, se o que a incomoda está dentro de si mesma.

Uma vez pelo menos, seria feliz se esse tupor saisse de seu interior frio e sombrio. Mas ele não sai.
Dizer que está feliz, é facil, mas doloroso, porque ela pode mentir pra todos, menos pra si. Pode até tentar, mas enquanto se engana, é onde o tupor se mostra maior. Pois, negando pros outros é onde mais se afirma pra si.

Ela olha a janela. Olha o céu, mas ele não mostra nada que ela já não saíba. Só que ela ainda espera que suas expectativas internas aconteçam.
Que seus desejos se tornem reais.
Mas sabe que isso não irá acontecer.

Ela se pergunta "como?", como uma garota decidida, perspicaz e livre, foi se tornando confusa, débil e tão presa a coisas que nunca ficou?
É exatamente assim que começa. Se fosse outra pessoa e visse todos os sinais desde o começo, como uma expectadora, ela teria notado. Mas era com ela que as mudanças iam acontecendo.

Sua única esperança agora é que com o ano novo se aproximando, coisas novas também se aproximem.
Dizem que pra se esquecer uma coisa, precisa-se de outra. Mas ela não acredita nisso.

Ela acredita que pra esquecer uma coisa, basta só lembrar de si mesma.






Mayra Dias


 

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